Areia - Lado C por Bruna Freitas


«Em “Areia” – inspirado na contemplação do óleo sobre tela de 1891, Melancolia, de Edvard Munch – a mesma história é-nos contada sob duas perspectivas – o “Lado A” e o “Lado B”, tal como no conto “Investir em ti” –, dois homens que, sem se conhecerem, repartem o mesmo amor pela mesma mulher, e cujo amor carnal e efectivo de um, e o amor destroçado e ressentido de outro, acabam por reflectir, em lados aparentemente opostos, a mesma dúvida existencial: «Aconchego-me na areia, sentindo-me parte dela, apenas mais um grão; e espero» (aqui). Agora o "lado C":



Ao caminhar contigo de mão dada, naquela praia, relembrava alguns momentos que ali tinha passado com outro alguém, numa outra altura. Sentia algo por ti, não sei bem o quê, estava tensa, nervosa. Fiquei mais ao ver ao longe um vulto. Fiquei com receio de continuar. Era ele. Pesei em fingir que não o conhecia, mas seria rude. Então optei por ter uma atitude simpática. Pensei: já estive aqui com ele. Depois pensei que antes de ter estado ali com ele, já tinham existido outros eles. Ele foi alguém que amei ali, que me amou, mas que deixei para trás. Beijaste-me. Correspondi, mas sem sentir nada. Foste atingido. Olhei e era aquela figura do meu passado que deiei e magoei. Foste novamente atingido. Depois, pousou o pau, virou costa e partiu. Ainda me olhaste, sem entender o cedido. Pedi-te desculpa e desapareci. Sou prisioneira de outro amor. Perdão.
Bruna Freitas