alguns poemas de Joana Serrado




E eu digo: "abraça-me". E os teus braços fazem-se.
E eu digo: "abrasa-me". E tu fazes-te em braços.


É neste momento que a camélia, escondida, se ruboriza e a página tinge-se em perfume.


******


Con
tributos Para um Botânica Feminista

Sei que tu tens um gineceu. Eu também tenho um androceu. Se fossemos coerentes, nem sequer falávamos. (L)íamos.

Leio-te em Braille, cega de tanto esperar.



******


Parafraseando as Especialistas

Amo-te com a ponta dos dedos.


******



Estado da Questão

O que os outros e
screveram sobre o teu corpo não sei
O que as outras escreveram no teu corpo não me interessa
Sei que nunca viste o teu rosto – e será que a água te engana?
Será que tens rosto?

De todas as tuas dúvidas eu te dissiparei
- abandona-te nas minhas mãos científicas ou ciosas.

Sei que nunca viste as tuas costas. Lá chegarei.
Cuidemos em vigiar o tempo.



******


Há hortênsias que são verdes.
Arrepiam-se nos canteiros
vendo passar os carros.
E as enxadas que sulcam os regadios
mas elas não se movem.
As suas razões seminais continuam.
Arrepiadas.

Joana Serrado


Joana Serrado nasceu no fim do Inverno, no ano da Revolução Iraniana. Estudou várias coisas de que não se lembra entre Coimbra A e Coimbra B, quando falhava a ligação. Usa óculos e anda aos tombos na Holanda à espera de ver a aurira boreal. Vai casar-se ciom um neorealista, no ano da Ocupação Iraniana.

Nenhum comentário: