Memorial do Convento


Para os que ainda não leram o Memorial do Convento, espero que a dramatização pela Casa dos Afectos tenha servido de alavanca para a leitura.
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Memorial do Convento | Casa dos Afectos


Hoje, no Auditório da Junta de Freguesia de Campanhã, a Casa dos Afectos irá apresentar uma dramatização do romanceMemorial do Convent, de José Saramago.

Do site da Casa dos Afectos:
"Sinopse: Ao fazermos a abordagem inicial a este texto para a respectiva adaptação teatral e, atendendo a que ele se destina a ser maioritariamente apresentado a públicos escolares, tivemos a preocupação de manter o mais intactas possível as linhas mestras que fazem desta genial obra uns dos grandes livros da literatura do século XX, sem, contudo, deixarmos de apresentar, como é perfeitamente lógico, a nossa própria visão, ou leitura, se preferirem, da dita obra. Palco nu, um andaime em fundo, metáfora de elevação de todas as obras humanas, da vida, da emancipação, de conventos, da perfídia, do amor, da utopia. Todas elas, afinal, em plena construção, permanente. Um coro, uma mole de actores envergando a cor do seu labutante sangue, consciência e ponto intemporal da acção. Acção, essa, onde o tempo se mede apenas pela existência rítmica das palavras e dos corpos suspensos em metáforas, ou andaimes, conforme o olhar. Um rei: um fantoche; o poder aparentemente guiado pelos fios invisíveis de Deus. A ironia está lá, no livro, na vida, na história. Não fomos nós. Já recebemos este rei e esta rainha vindos assim: pasmados; suspensos; ridículos clowns de si próprios; pérfidos, ignorantes, prepotentes, com muito pouco de humanidade. Já recebemos, dizia, estes monarcas, vindos assim do fundo dos tempos e das memórias. E o amor: essa torrente de desejo, vítima de todas as mais mortíferas ironias; esse rio de carne em brasa propulsora do maior de todos os sonhos; esse voo de olhares que se explanam entre a cama e o céu, acariciando todas as vontades; a vontade de que o fogo não mata, mas purifica. E todos os poderes metamorfoseados em fé. E ainda a utopia: vontade ancestral dos homens na imitação dos pássaros; na imitação do primeiro som; do primeiro silêncio; da primeira sinfonia da voz. E mais os actores rompendo o corpo com as palavras. Entre o histórico e o romanesco, a narração diverte-se em verbos de palco."

Navegar é preciso! e Helpwrite

Hoje, os alunos intervenientes no desenvolvimento do CD Interactivo Navegar é preciso! e na Helpwrite vão apresentar os seus projectos no âmbito das Palestras Divertidas.

Ficam os videos, para recordar...







Um Punhado de Terra | Pedro Eiras



(...) Um dia a barcaça de
meus filhos pequenos
barcaça que descia o rio foi esmagada por
um barco maior que
montanhas
barco maior que montanhas veio de longe do mar
Um dia barco veio
brilhava como facas ao sol
Tão grande
era maravilha não se afogar nas águas
oh
se o grande barco se afogara!
Era maravilha não o esmagar o oceano fero
que estala nossos batéis
Veio
enchia o céu como nuvem de trovões
sobre escuras águas
Procurávamos ver o que seria
tal montanha de madeira nas águas
Nem nossos olhos que adivinhavam o leão antes de atacar
percebiam o que era
E vimos havia homens nas montanhas de madeira fomos logo
muito contentes
pensámos que lhes daríamos
nosso poço a ver
milho
a comer
talhas vidradas de manteiga fresca
redomas de vidraça com águas
pano de fino algodão
a vestir
Meus filhos ansiosos de subir à montanha de madeira
já pensavam nadar a ela
ninguém os podia ter em sossego
Mas homens da grande nave desceram em batéis
vieram a nós
que fazíamos festa em recebê-los
Quando se aproximaram vimos eram feios
tão feios
Traziam nas caras a fúria selvagem
e gritos
e cabeças de metal sobre as cabeças do corpo
e pele de ferro sobre a pele do corpo
Feia era a cor da pele
cor de leite velho estragado
cor de planta comida pelo sol
E chegaram a nós Eles
poucos
nós muitos
nós na praia a receber os homens secos
Chegaram e saltaram as ondas ao nosso encontro
e vinham a correr a nós
não percebíamos
e recuámos um passo
Correram apanharam-nos de surpresa
e nunca os tínhamos visto nunca lhes tínhamos feito mal
O primeiro que apanharam foi
um dos nossos
que atirava a seta como o vento
mas ora era de mãos nuas
alto como eu tinha mulher seis filhos pequenos
Homens secos o agarraram com grandes urros
Ele sacudiu as mãos que o agarravam
mas os homens secos
vendo ele resistia
lhe bateram na cabeça com um pau
ali o deixaram como morto
sangue corria na terra
Começámos a correr a todos os lados
pais com crianças pequenas nos braços
velhos agarrados a velhos
mulheres ao lado dos homens
mas os homens secos nos cercavam
Agarravam primeiro homens crescidos e fortes
E se encontravam velho
ali o matavam com espada de ferro
E gritavam alto no falar deles
diziam – Portugal!
diziam – São Jorge!
diziam – Santiago!
E estas palavras
ó criador do fogo
ouvi-as muitas vezes depois desse dia
(...)

Pedro Eiras, Um Punhado de Terra, Deriva Editores.

Fortuna de Fernando Pessoa na Rússia


"Fernando Pessoa é um dos raros poetas portugueses com poemas transpostos para obras musicais por compositores do Leste da Europa. Por exemplo, Konstantin Nikolski, um dos “monstros do rock russo” dos anos 80 do século XX, musicou e interpretou alguns poemas pessoanos. No ano passado, depois de um intervalo de mais de 15 anos, editou o álbum “Ilusões”(na foto), cujo título foi buscar ao poema de Fernando Pessoa “O sono - Oh, ilusão! - o sono? Quem”.
Musicou ainda dois outros poemas do autor de "Mensagem": “Entre o sono e o sonho” e “Vida minha, de onde vens e para onde vais”. “Nos anos 90, pouco antes da edição do álbum “Vagueio sem caminho”, a minha mulher ofereceu-me, no dia de adversário, uma colectânea com a dedicatória: “Lê, penso que isto é para ti”. As canções surgiram logo que comecei a ler esses poemas surpreendentes”, recorda Konstantin Nikolski. "Eu penso que não é preciso compor música para os poemas, porque ela já está neles contida. O principal é adivinhar”, observa. Para o conhecimento da obra de Fernando Pessoa na Rússia contribui também a popularidade do grupo musical português Moonspell, principalmente pela sua composição “Opiário”, sobre versos do poeta.
O cantor russo Boris Vitrov interpreta “Canção antiga na taberna vizinha”, com letra de Fernando Pessoa e música de Robert Michaels. Também em língua russa canta-se o poema “Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio”, do heterónimo Ricardo Reis. O poema “Ó sino da minha aldeia”, traduzido para estónio por Ain Kaalep, foi musicado em 1978 por Vejlo Tormis, um dos mais conhecidos compositores estónios contemporâneos. Em 2005, actrizes e cantoras estónias interpretaram essa canção para o disco “Laulud” (Canções). A poesia de Fernando Pessoa cativou também Veljo Tormis, um dos mais conhecidos compositores estónios. No início de 2008, foi editado um CD com obras do autor, entre elas o “Concerto para Coro Misto, Declamação e Sino", baseado no poema de Fernando Pessoa “Ó sino da minha aldeia””. É de assinalar que essas obras são interpretadas pelo coro de música religiosa ortodoxa “Cantores Ortodoxos”, sob a direcção do maestro Valeri Petrov. Versos de Fernando Pessoa servem de mote ao filme estónio “Sugisball” (Baile de Outono), do realizador Veiko Õunpuu, obra galardoada com o prémio Venice Horizon Award do Festival de Veneza de 2007. O filme começa com os versos do poema “Tabacaria” - “Fiz de mim o que não soube /E o que podia fazer de mim não o fiz” - ditos repetidas vezes pela personagem principal. " (daqui)


Teste de avaliação

TESTE apontamento campos Paula Cruz Teste de avaliação - Álvaro de Campos

Le lettere d'amore, Roberto Vecchioni



A partir de Fernando Pessoa.

(anti-Ricardo Reis) | Adília Lopes

(Miguel Yeco)


(anti-Ricardo Reis)

O rio
é bom
para nadar
e as flores
para dar
o resto
são cantigas
casa-te com Lídia
tem bebés
passa a lua-de-mel
na Grécia.

Adília Lopes

"pega tu nelas"
Ricardo Reis

Mão morta vai bater àquela porta
as rosas amo dos jardins de Adónis
ao escrever
é preciso reconciliar uma lebre
com uma tartaruga
oh como era lebre a tartaruga!

*

Mas porque será sempre Lídia
a pegar nas rosas
Dr. Ricardo Reis?

Adília Lopes

Apontamento, de Álvaro de Campos | por Margarida Pinto

Os "diseurs" do 3ºA da Eb1 da Corujeira

Os alunos do 3ºA vierem à sede do Agrupamento preparar com ajuda da prof. Henriqueta uma surpresa para o dia da mãe. Num intervalo deste trabalho, disseram alguns poemas dos quais damos notícia neste vídeo. Parabéns, prof. Elisa pelo bom trabalho que tem desenvolvido com estes meninos.

Um amor de Perdição, de Mário Barroso



Wordsong Pessoa




(Wordsong é um projecto multimédia em que Pedro d'Orey (Mler If Dada), Alexandre Cortez (Rádio Macau), Nuno Grácio, Filipe Valentim (Rádio Macau) e alguns artistas convidados transformam, manipulam, desconstroem e reconstroem em experiências sonoras de formato melódico-electrónico a poesia de autores portugueses.)

Grandes Livros

Na próxima sexta-feira, pelas 21.00, na RTP2 irá ser transmitido um documentário dedicado ao livro Aparição, de Vergílio Ferreira.

"Grandes Livros" é um projecto multi-plataforma de divulgação da literatura portuguesa que
envolve uma série de 12 documentários, com 50 minutos cada, narrados por Diogo Infante, actor
e director do Teatro Nacional D. Mª II.

Versos Olímpicos, de José Ricardo Nunes

Foram as mais grandiosas Olimpíadas de sempre.
Participaram todas as nações conhecidas.
Resultados muito além do que seria de esperar.
A organização excedeu-se e merece os elogios
e o aplauso. Passados quarenta dias,
é tempo de entregar o testemunho
a mais uma cidade. Prudente omitir
como ficou pior o mundo nestes quarenta dias.

José Ricardo Nunes, in Versos Olímpicos

Vicente, de Miguel Torga


Não encontrei texto melhor para iniciarmos o 3º período.
Um texto de Miguel Torga que nos mostra a importância de ser VICENTE - e enfrentar o dilúvio, em vez de nos sujeitarmos à opressão da arca.




"Naquela tarde, à hora em que o céu se mostrava mais duro e mais sinistro, Vicente abriu as asas negras e partiu. Quarenta dias eram já decorridos desde que, integrado na leva dos escolhidos, dera entrada na Arca. Mas desde o primeiro instante que todos viram que no seu espírito não havia paz. Calado e carrancudo, andava de cá para lá numa agitação contínua, como se aquele grande navio onde o Senhor guardara a vida fosse um ultraje à criação. Em semelhante balbúrdia - lobos e cordeiros irmanados no mesmo destino -, apenas a sua figura negra e seca se mantinha inconformada com o procedimento de Deus. Numa indignação silenciosa, perguntava:- a que propósito estavam os animais metidos na confusa questão da torre de Babel? Que tinham que ver os bichos com as fornicações dos homens, que o Criador queria punir? Justos ou injustos, os altos desígnios que determinavam aquele dilúvio batiam de encontro a um sentimento fundo, de irreprimível repulsa. E, quanto mais inexorável se mostrava a prepotência, mais crescia a revolta de Vicente."
(Miguel Torga, Os Bichos)

Conto na íntegra aqui.

Que livro salvarias?

Se eu tivesse que salvar um livro, salvaria Romeu e Julieta de William Shakespeare, porque é uma história de um amor que derruba obstáculos e que perdura para além da morte.

Jéssica

Missão Possível!

Plano de trabalho para o 3º (e último) período lectivo.

Conversas com Sarah Affonso

Manifesto Anti-Dantas (dito por Mário Viegas)

Manifesto Anti-Dantas - a motivação


"as irreverências dos do «Orpheu» e de Almada em particular haviam ganho tal ressonância que sobre eles chegou a fazer-se um inquérito sobre a sua possível loucura junto de três personalidades: Júlio de Matos, que recusou a hipótese, Egas Moniz, que não a admitiu nem deixou de admitir, e Júlio Dantas, que os achou loucos «de encerrar» — motivo para, na mesma noite, ser sacrificado pelo famoso Manifesto Anti-Dantas de Mestre Almada" (in Conversas com Sarah Affonso)

Para ler na íntegra clica na imagem:



Consulta: http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/

a propósito da Arca de Pessoa


Todos os poetas
têm uma arca

Todos os poetas
têm uma arca
frigorífica

A arca de Pessoa
era frigorífica

A de Noé não
graças a Deus


Adília Lopes (in Clube da Poetisa Morta)



Aparição, de Vergílio Ferreira

Uma ficha de leitura do tempo em que Aparição era um romance para maiores de 21!






(daqui)

Uma reflexão acerca de lixo, Ricardo Araújo Pereira


Uma reflexão acerca de lixo, Ricardo Araújo Pereira

É muito frequente encontrar-me na circunstância de ter lixo na mão e, quando confrontado com os rótulos que hoje designam as várias secções dos caixotes do lixo (cartão, papel, embalagens, vidro), verificar que o lixo que eu possuo se enquadra, invariavelmente, na categoria dos indiferenciados.

Certo dia, quando trabalhava no JL, fui incumbido de entrevistar uma escritora chamada Adília Lopes. A primeira pergunta que lhe fiz foi sobre um poema seu de que eu gostava e gosto muitíssimo. Chama-se Autobiografia sumária e só tem três versos: "Os meus gatos / gostam de brincar / com as minhas baratas." O meu objectivo era impressionar a autora com a minha excelente interpretação do poema. Disse-lhe que aqueles versos eram também o resumo da minha vida. Os meus gatos, isto é, aquilo que em mim é felino, arguto, crítico ("Não é por acaso", disse eu, "que Fialho de Almeida reuniu os seus textos críticos num volume chamado Os Gatos), aquilo que em mim é perspicaz - e até cruel - gosta de brincar com as minhas baratas, ou seja, com aquilo que em mim é repugnante, negro, rasteiro, vil. E aquela operação poética - que é, igualmente, uma operação humorística - de escarnecer de si próprio era-me tão familiar que podia descrever-me de forma tão competente como à autora do poema.
Os olhos de Adília Lopes humedeceram-se. Fosse qual fosse a noite solitária em que escreveu o poema, estava longe de imaginar que, tanto tempo depois, a sua alma gémea se apresentasse à sua frente, compreendendo-a tão profundamente. Foi então que Adília Lopes falou. Disse o seguinte: "Pois. Bom, comigo, o que se passa é que eu tenho gatos. E tenho também baratas, na cozinha. E os gatos gostam de ir lá brincar com elas." E depois exemplificou, com as mãos, o gesto que os gatos faziam com as patinhas.
Foi naquele dia, amigo leitor, que eu deixei de me armar em esperto. Tinha citado Fialho de Almeida, tinha usado a expressão "operação poética", e tinha-me visto a mim onde só havia gatos e baratas. Os olhos de Adília Lopes estavam húmidos, provavelmente, do esforço que a sua proprietária fazia para não rir. Não eram só os sacanas dos gatos que escarneciam de mim: a Adília Lopes também. E, desde esse dia, tenho constatado que o mundo inteiro, em geral, me mofa (quem aprecia a frase bem torneada fará bem em registar, num caderninho próprio, a elegante construção "me mofa").
Vários filósofos têm reflectido sobre o lixo, sobretudo acerca do modo como a nossa sociedade trata o seu lixo. Eu estou magoado com o modo como a nossa sociedade trata o meu lixo em especial. Não me interessa o tratamento que a sociedade dá ao seu lixo: a forma como trata o meu é humilhante. O lixo de Adília Lopes gera vida e poemas. O meu lixo não só não gera nada como tem uma falta de personalidade que o amesquinha quase tanto quanto me amesquinha a mim. É muito frequente encontrar-me na circunstância de ter lixo na mão e, quando confrontado com os rótulos que hoje designam as várias secções dos caixotes do lixo (cartão, papel, embalagens, vidro), verificar que o lixo que eu possuo se enquadra, invariavelmente, na categoria dos indiferenciados. Quase todo o meu lixo se caracteriza por uma falta de carácter que só posso ser eu a transmitir--lhe. Eis, afinal, a minha autobiografia sumária: "O meu lixo / é tão desinteressante / como eu."

in Visão (26/03/09)