SMS | Filipa Leal

Filipa Leal fotografada por Mafalda Capela


SMS


Porto.20h.Ninguém canta.

Filipa Leal, in O Problema de Ser Norte

[explicação prévia: Estando nós a “discutir” os limites do texto literário, o Tiago trouxe para a discussão o SMS de Filipa Leal. A Joana achou o poema “estranho”, daí ao estranhamento de Chklovski foi um pulinho…]

Como se fosse um comentário

O poema de Filipa Leal é devedor da modernidade, aliás podemos mesmo considerá-lo um epigrama dos nossos dias. Contudo, se na Antiguidade o epigrama era perene, o SMS é efémero. Isto é um reflexo da vida actual: hoje tudo (ou quase tudo) é descartável, mesmo este SMS.

Curiosamente, a poetisa recupera este SMS e transforma-o numa epifania. De repente, o lixo electrónico é transformado em luxo poético. O SMS é elevado a “coisa” poética (res poetica)

O verso, porque de um verso se trata, é sucinto, informa-nos apenas sobre uma localização geográfica – “Porto” – sobre uma localização temporal “20h” e acrescenta um enigma “Ninguém canta”. Mais complicado do que entender a mensagem do verso, parece-nos ser o descortinar do receptor desta mensagem. Talvez esse receptor “ideal ”, aquele para quem foi pensado o SMS conheça o significado. Ou , pode dar-se o caso de ter sido o sujeito poético a receber o SMS. Não sabemos.

Mas, mesmo não sabendo a quem se dirige a mensagem, nós leitores tomámo-la como nossa. É a nós que o sujeito poético confia que “ninguém canta”. E fica-nos uma doce melancolia :por que é que ninguém canta?

[este texto foi passado pela Cátia]

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