Bolor, de Augusto Abelaira | por Filipa Miguel



-Por que casaste comigo em vez de casar com outra? Por que me escolheste a mim como imagem da vida quotidiana, ponto de referência em relação ao qual uma diferente vida é possível - vida, parêntesis, na realidade inútil de todos os dias?”


"Se falo aqui da Maria dos Remédios e da minha vida com ela é por-que algo em nós ficou incompleto, é porque não achamos em nós esse absoluto, essa perfeição que a si mesma se basta."

Humberto, a personagem principal, reflecte, neste diário, sobre diversas situações da sua vida.
Humberto é advogado e casado, há seis anos, com Maria dos Remédios. Trata-se de um segundo casamento, pois o nosso protagonista era viúvo de Catarina.
Humberto lamenta-se, no diário,  das dificuldades de comunicação com Maria dos Remédios, determinada altura a voz de Maria dos Remédios intromete-se no Diário: ela passa a escrever aquilo que não consegue dizer de viva voz. Ainda, assim o entendimento continua a não existir (até se complica).
Aparentemente, à excepção da relação que mantém com Maria dos Remédios, tudo na vida de Humberto é perfeito: a vida profissional, as amizades.  - "com os meus amigos e com o meu trabalho, sou (descubro hoje)perfeitamente feliz" - Porém, também pelo diário ficámos a saber que Aleixo, o seu melhor amigo, mantém uma relação extra-conjugal com com Maria dos Remédios. Leonor, mulher de Aleixo, é a primeira a descobrir, mas, pela sua reacção, não parece demasiado afectada.

Filipa Miguel


Augusto Abelaira (1926 -2003) - biografia aqui e aqui.
Augusto Abelaira nasceu em Cantanhede em Março de 1926. Licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas. A par do seu trabalho como escritor, tem exercido os cargos de professor, jornalista (no Diário Popular e no Jornal de Letras), director de programas da RTP e director das revistas Vida Mundial e Seara Nova. Em 1963, ganhou o Prémio Ricardo Malheiros da Academia das Ciências como romance As Boas Intenções. Em 1979, ganhou o Prémio Cidade de Lisboa com o romance Sem Tecto entre Ruínas. Em 1997, foi distinguido com o Grande Prémio de Romance e Novela da APE com o romance Outrora, Agora.



- Questões que Bolor levanta:

-  A existência de um "eu" não-linear (vários "eu" surgem no texto)
- Obsessão pelo passado;
- Dificuldade da comunicação (incomunicabilidade);
- Fragmentação do texto;
- Narrativa aberta;
- Processo de auto-transfiguração (ver-se continuamente de outra perspectiva).

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