Diagnose...

Era de inverno, em Vila Real. A neve
cobria as ruas que levavam ao liceu.
Dentro da confeitaria, as luvas de cabedal
no tampo do vidro, o vapor da respiração
ligava-nos entre as conversas de mesa indiferentes.
E querias olhar para mais dentro de mim.
Os pombos escondidos nos beirais tapavam
a cabeça na plumagem de chumbo, cor do céu.

Calados, afeitos ao silêncio, enlaçámos
em cada um dos nossos livros a primeira letra
dos nossos nomes, de modo a desenharem
uma única letra que não havia em alfabeto nenhum.
Que bem que estávamos tão mal ali sentados,
a faltar às aulas, nessa primeira vez
em que nos acontecia, sem sabermos, um amor.

Tu não ias adivinhar as leis secretas
que já nos separavam. Tu não podias
lutar na via de sangue da minha vida.
Mas sempre que tombar neve em Vila Real
e desceres a avenida a caminho do café
de alguma destas coisas, quem sabe, te hás-de lembrar.

Joaquim Manuel Magalhães

Apresente, de forma estruturada, as suas respostas ao questionário.
1. Selecione, da lista a seguir indicada, as duas palavras que, em sua opinião, se ajustam melhor ao sentido das duas primeiras estrofes.
                  Cumplicidade | Inexperiência | Paixão | Transgressão
Justifique as suas escolhas, fundamentando a sua argumentação em elementos do poema.

2. Em duas antologias foram encontrados, sobre este poema, os comentários seguintes:
   Comentário A – “Este poema é sobre a memória de uma experiência amorosa da adolescência”.
   Comentário B – “Este poema é sobre a consciência de um amor impossível”

Escolha o comentário que lhe parecer mais adequado, fundamentando a sua resposta em elementos do texto.

3. Sobre a poesia de Joaquim Manuel Magalhães, tem sido dito que ela é marcada, entre outros aspetos pela referência a um “quotidiano banal”, pela “interpelação do visual”, pela “notação autobiográfica” e pela ideia de “nostalgia”. Explicite a relevância de dois destes aspetos, à sua escola, para a análise do poema.

GRUPO II
Sophia de Mello Breynner Andresen, em entrevista ao Diário de Notícias, em 24.11.94 disse:

«A única palavra portuguesa cuja ortografia precisa de ser mudada é dança, que se deve escrever com ‘s’, como era antes, porque o ‘ç’ é uma letra sentada, uma letra pesada. Escrevo com ‘s’, mas há sempre o desastre de os tipógrafos ou as pessoas que me passam os textos à máquina acharem que é um erro e emendarem para ‘ç’...»

Redija um texto bem estruturado, de cem a duzentas palavras, onde se posicione criticamente em relação ao acordo ortográfico.

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